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  • Foto do escritorKeyla Fernandes

Eu Nunca Li Harry Potter, ou Como Me Interessei Por Literatura.


Eu nunca li Harry Potter. Quando eu falo isso, as pessoas ficam espantadas e já mandam: “mas o que você lia quando era criança?”

Responderei essa pergunta mais adiante.


Primeiramente gostaria de esclarecer que respeito e reconheço a importância da obra para a literatura (embora a autora seja transfóbica e tenha posicionamentos muito problemáticos).

Pode ser que minha memória esteja enganada, mas me lembro que só fui ter contato com o filme do bruxinho depois de assistir O Senhor Dos Anéis. E eu, apaixonada pela Terra Média, não me interessei nem um pouco por HP.

Eu estudei em escolas públicas, pequenas e com bibliotecas limitadas que, apesar de ter sido verdadeiros mundos para mim, ainda tinham uma certa limitação Além disso, Harry Potter nunca me foi apresentado por ninguém, talvez porque mais ninguém conhecia também (é gente, nem todo mundo conhece, ao menos, não conhecia naquela época).

Mas então, o que eu lia quando criança?

Meu interesse pela leitura devo, e muito, à minha família. 

Meus pais não tiveram a oportunidade de concluir os estudos, tendo de parar de estudar ainda muito jovens. Meu pai, para trabalhar, e minha mãe porque meu avô dizia que mulheres não precisavam estudar.

Ainda assim, ambos foram muito presentes na vida escolar dos filhos, sempre ressaltando a importância dos estudos, participando das reuniões, ajudando como podiam nos deveres de casa e trabalhos. 

Sou muito grata por isso, pois sei que é um puta privilégio.

Na época em que comecei a ler, na escola onde eu estudava (Escola Municipal Cecília Hermínia Oliveira Gonçalves, em Londrina) a gente tinha acesso a livros infantis que podíamos levar para casa. Era como uma lição que todo mundo tinha que fazer.

Como eu não conseguia ler livros ainda, minha mãe lia pra mim.

Lembro que um dos primeiros livros que eu “li” se chamava “A Vaca no Telhado” de Giselda Laporta Nicolelis, e minha mãe leu tantas vezes que eu decorei a história toda. Quando tive de apresentá-la na sala, eu simplesmente recitei o livro, de cor.

Então foi assim: primeiro, minha mãe lia pra mim, até eu conseguir ler sozinha. Livros curtos, aquelas adaptações dos desenhos da Disney para livrinhos super fofos, cheios de ilustrações e muito gibi da Turma da Mônica.

Na antiga quarta série, atual quinto ano, li, pela primeira vez, a versão original de Cinderela, e fiquei passada com a violência. No ano seguinte, li a da Pequena Sereia. Fiquei deprimidíssima com aquele final. Ambos os livros eram edições dos contos originais, mas com ilustrações lindas e disponíveis para traumatizar nossos cérebros infantis. E por mais devastada que os livros me deixaram, eu amei aquelas histórias.

Quando comecei a ler livros maiores, meu irmão me mostrou um livro da nossa amada Coleção Vaga-Lume: O Mistério do Cinco Estrelas.

Daí pra frente, os livros dessa coleção fizeram parte da minha formação como jovem leitora. Lembro de títulos como, além do já citado, Um Cadáver Ouve Rádio e o Rapto do Garoto de Ouro, que eram suspenses policiais (meu gênero favorito até conhecer os vampiros). Li vários outros, mas não me lembro agora.

Lá pelos 11 anos de idade, meu amor pelo terror começou a ser cultivado por um livro chamado O Príncipe Fantasma, e evoluiu até chegar nos vampiros e, inevitavelmente, na Anne Rice.

Com 12 anos, assisti O Senhor dos Anéis, mas só fui ler o livro lá pelos 15 ou 16, e já me enfiei em títulos como A Divina Comédia e Sandman ( que meu professor de história me emprestou, e eu o amarei para sempre por isso), obras que foram marcos na minha vida.

E daí em diante.

Eu não li Harry Potter, e tô aqui hoje, lendo, escrevendo.

Muita gente leu, e tá aqui também.

Nossos caminhos podem ser diferentes, mas o veículo é o mesmo.

O que importa é começar a ler.


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